FESTAS JUNINAS, Valdir Barreto Ramos.

      Sempre que vira o mês de maio para junho cá nessas terras onde nem se fala em festas juninas me pego rebuscando na memória enquanto ainda guardo traços do passado quando junho era mês de festa.

     Começava com as novenas de Santo Antônio quando as famílias devotas reunindo amigos e familiares realizavam rezas durante nove noites seguidas, sendo a última, dia justamente 13 de junho quando oficialmente começam os folguedos juninos de Santo Antônio, São João e São Pedro.

        Conhecido como o santo casamenteiro, era tempo de se fazer promessa para arranjar um bom partido, principalmente pelas mulheres cuja idade já passara do tempo da temperança, temendo ficar para tia, no caritó.*

        As promessas das moçoilas eram as mais diversas, desde retirar o filho das mãos do santo e só devolver após aparecer um pretendente, a colocar a imagem do santo de cabeça para baixo dentro de um copo com água até que o pedido surtisse efeito. Havia também as adivinhações, tais como enfiar uma faca no tronco da bananeira na noite do dia de Santo Antônio e retirá-la ao amanhecer do dia seguinte. Dizia-se que se o pedido fosse realizado apareceria na lâmina da faca a letra inicial do nome do possível pretendente a casamento.

        A seguir vêm os festejos de São João, o mais popular dos três santos. Dia 24 é o dia de São João. Mas a festa começa efetivamente na véspera. A partir das dezoito horas começam a serem acesas as fogueiras montadas nas portas das casas ou em terrenos próximos. As cadeiras estrategicamente colocadas em derredor das fogueiras para apreciar o crepitar das chamas e o estalar das madeiras, na maioria das vezes feitas com galhos e troncos secos que lentamente vão queimando e iluminando a noite. O Nordeste se engalana com as cores de bandeirolas esticadas por cordas de casa em casa, de poste em poste, em toda a extensão das ruas.

       Danças de quadrilhas, queima de fogos, ruas ornamentadas por bandeirinhas e adereços alusivos a festa, céu enfeitado de balões multicores ofuscando o brilho das estrelas deslizando ao sabor do vento, músicas típicas, pessoas vestidas a caráter com roupas de caipiras e chapéus de palha, sentadas na porta de casa em frente a fogueira, conversando, enquanto os mais jovens arriscam-se ao pular a fogueira. Era tanta fumaça de fogueiras que os olhos ardiam. O clímax era na noite de véspera do dia de São João.

       Os adultos conversam animadamente enquanto degustam as delícias típicas, tais como canjica, mugunzá, pamonha, bolo de milho e de macaxeira, milho cozido ou assado e batata doce nas brasas das fogueiras. Os deliciosos licores de frutas dos quais os mais populares são os de jenipapo e maracujá são degustados e aquecem a noite com temperatura amena. A música ecoa por todo lado. Forró genuíno de pé de serra. Não essas músicas que dizem ser sertanejas, mas que de sertão só tem o nome. Luiz Gonzaga comanda o desfile de músicas que nunca são esquecidas. Os adolescentes e adultos improvisam uma dança de quadrilha dançando em volta das fogueiras ao ritmo das músicas. O sereno cai, mas ninguém se importa e todos se divertem noite adentro. É dia de festa. É São João no Nordeste.

       O ciclo dos festejos juninos se encerra no final do mês com a comemoração do dia de São Pedro, comemorado principalmente por viúvos e viúvas, mas não menos importante dentre os festejos juninos. As famílias se reúnem para festejar e relembrar dos entes queridos E assim termina o mês de junho de tanta comemoração e alegria. É o desfecho de um mês festivo na Bahia e no Nordeste.

*Do livro HISTÓRIAS DO RECÔNCAVO (a ser publicado).

 

Valdir Barreto Ramos, cronista, contista, memorialista, sub-oficial aposentado da Marinha do Brasil, Turma Lima de 1975 da EAMCE.

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Pádua Marques

Jornalista, cronista, contista, romancista e ecologista.

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