Bar Parnaíba. Os muitos anos do salão do pano verde.

Caso fosse em Las Vegas ou Chicago, nos Estados Unidos ou mesmo em Buenos Aires na Argentina, certamente teria uma placa na parede informando que se tratava de um prédio antigo e que sua atividade tinha um grande valor histórico, portanto com todas as credenciais para ser uma atração turística. Mas nós estamos em Parnaíba no Piauí e esta cidade à beira do mar e com todos os bons ingredientes para se desenvolver no turismo pouco ou quase nada se dá conta disso. Ou ainda necessita e muito conhecer e apreender com quem sabe.

A poucos metros da centenária praça da Graça e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba, saindo por uma ruazinha apinhada de carros e seguindo na direção do rio Igaraçu, o visitante vai encontrar um prédio que lembra e muito os antigos armazéns de secos e molhados, com suas sete portas pela rua do Rosário e outras duas pela Duque de Caxias. A impressão de que não se trata de um ponto comercial se desfaz quando se vê num grande salão, mesas de sinuca, duas delas ricamente trabalhadas em madeira de lei e naturalmente alguém jogando.

O Bar Parnaíba é um destes lugares que bem merecem o reconhecimento dos órgãos que trabalham com a divulgação do turismo histórico, assim como se faz com as praças, os monumentos e até os estádios. Há quase 100 anos está ali no centro de Parnaíba recebendo e atendendo sua clientela. São aposentados, empresários, trabalhadores das oficinas e escritórios ali de perto, políticos, jogadores ou gente que veio matar as saudades dos amigos e acaba parando para jogar uma partida enquanto bebe cerveja, um aperitivo saboreando os petiscos.

É lugar onde muitas pessoas também vão almoçar. Comida simples, caseira mesmo. Teve durante muito tempo o olhar atento de Deusdeth Raimundo Laurentino, um senhor de voz baixa, sócio do antigo proprietário, Joaquim Magalhães Bezerra, que morreu há muitos anos depois de mais de cinqüenta dirigindo o estabelecimento. Joaquim Bezerra tinha uma rotina que cumpria à risca: chegava todos os dias pontualmente às 11h e atendia a todos os clientes, fossem do salão de jogos, no bar ou do restaurante com muita simplicidade e elegância.

Laurentino já não está mais à frente daquele estabelecimento na esquina das ruas do Rosário com Duque de Caxias. Mas esteve por quase cinquenta anos no Bar Parnaíba. Sob seu olhar atento ia atendendo a todos os clientes do salão sem descuidar da cozinha, onde eram preparadas as refeições, servidas em duas salas, muito limpas e separadas da área de jogos.

A parte interna da construção pouco ou quase em nada foi modificada. Conserva ainda hoje o piso de ladrilhos hidráulicos de vários padrões e ainda encontrados em algumas calçadas daquela região do centro velho de Parnaíba. Chama a atenção de quem entra ou está visitando o salão de jogos, as mesas de sinuca com suas caçapas de couro, os quadros de marcar, os tacos sempre alinhados, a disposição das cadeiras, a discreta decoração com um relógio de parede e os antigos reclames de cerveja além de um bar ao fundo com sua prateleira que muito lembra as quitandas antigas.

Tudo no Bar Parnaíba é simples e pouco chama a atenção de quem passa pela calçada. Quando jogam, os clientes necessitam de silêncio e concentração. E nem o barulho dos carros nas ruas próximas incomoda quem está dentro. Crônica extraída da Revista Histórica, de 2010  do IHGGP. Foto: da rede social facebook de Miguel Bezerra.

 

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Pádua Marques

Jornalista, cronista, contista, romancista e ecologista.

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