Nossa pobreza é grande, mas ainda estamos aqui. * Pádua Marques.

Juro que ninguém chegou a imaginar que mal iniciado o ano de 2025 e a pacata e sem importância cidade de Parnaíba no norte do Piauí, terra onde o sol nunca de põe e as muriçocas só faltam carregar a gente, haveria de ganhar projeção na imprensa nacional e internacional por causa de uma sequência de mortes por envenenamento de uma família muito pobre na periferia, o distante e violento Dom Rufino, na zona oeste.

Pelas primeiras informações, uma família comeu um arroz no dia da passagem de Ano Novo e ao que se diz, estava envenenado com aquele conhecido veneno de matar rato, o chumbinho. O certo é que ninguém até agora tem certeza de nada. Nem a pólicia.

Essa história está muito conhecida, revirada, mexida de cabeça para baixo, muita gente, adultos e crianças já morreram, tem gente em cama de hospital em Teresina, a rua onde a família mora ou morava virou mórbida atração turística e não se fala mais noutra coisa na Parnaíba. Deixaram até o novo prefeito o novo Francisco, o piscinão, o pessoal que faz fila no Restaurante Popular na Pinheiro Machado, os buracos no pé da ponte do seu Virgílio Neres e que ameaçou levar o bairro da Coroa inteirinho pra dentro do rio Igaraçu com a Capitania dos Portos junto. Um salseiro que ninguém consegue mais dormir.

E assim, a sempre de nariz empinado terra de Simplício Dias ali na praça da Graça, todo pintado de dourado, essa Paris no meio de cajueiros, virou do dia pra noite, numa madrugada da passagem de Ano Novo, na terra mais vista, comentada, mais exposta por essa imprensa de blogs e portais que vivem e sobrevivem de crimes e da violência.

Mas esta situação de curiosidade internacional pela dizimação de uma família inteira por causa de uma farofa de manjuba, é tanta conversa, essa terra na América do Sul, no insignificante Piauí, capital de um delta do Parnaíba, só abaixo em importância geográfica do que o delta do rio Nilo no Egito, reflete uma situação crônica, eterna, coisa sem fim. Milhares de famílias, vivem na mais absoluta miséria nesta parte do Brasil, pra vergonha nossa e de todos os agentes públicos que a toda hora anunciam que a pobreza está diminuindo. Diminuindo aonde?

Uma família de gente pobre, pobre, pobre, demavé, mavè, mavé, esta agora inteirinha debaixo do chão, não sobrou ninguém. O momento é de consternação geral, expõe nossa fragilidade, nossa miséria, uma família inteira vivendo na indigência, vivendo da caridade pública de vizinhos, E o Brasil batendo palmas, falando de boca cheia, enchendo o peito de ar porque o filme do Walter Sales corro risco de ganhar um Oscar. Eu não quero estragar a festa da cultura, mas nós somos pobres e ainda de teimosos estamos aqui!

 

 

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Pádua Marques

Jornalista, cronista, contista, romancista e ecologista.

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